quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Jornadas de Editoração

ECA-USP promove debates sobre o universo da edição

O Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação (PPGCOM) da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) dá início às Jornadas de Editoração 2008. O objetivo do ciclo é discutir assuntos relativos à edição, colocando em debate questões importantes da área. Para isso, promove a interação entre profissionais e pesquisadores, em mesas que contemplam as tendências do setor e os avanços da pesquisa sobre ele. Cada jornada conta com a participação de três convidados, que abordarão o assunto de sua respectiva especialidade e, em seguida, discutirão entre si e com o público as questões comuns.

Em 2008, serão realizados os três primeiros encontros. Em 26 de agosto, o primeiro deles tem como tema as relações entre os mercados editoriais brasileiro, espanhol e latino-americano. Em 24 de setembro, o segundo debate abordará as atividades profissionais de edição de texto. Em 20 de outubro, por fim, serão discutidos alguns aspectos da pesquisa em Editoração e seu caráter interdisciplinar.

O evento é voltado aos estudantes de Comunicação, Letras, Pedagogia e áreas afins; pós-graduandos, professores e pesquisadores interessados no tema; autores, tradutores, editores e demais profissionais da área; e interessados em geral. As inscrições serão feitas no local, meia hora antes do início do debate, e são gratuitas. O público terá direito a certificado, a ser retirado no local posteriormente.

As Jornadas de Editoração contam com o apoio do Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA-USP e a colaboração de Todotipo Editorial, Virei A Página e Comunicação Pública.

Jornada 1

Edição sem fronteiras - Diálogos entre Espanha, Brasil e América Latina

Data: 26 de agosto, terça-feira, 9h
Local: Auditório Freitas Nobre, Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA-USP
Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443 – Cidade Universitária – São Paulo – SP
Convidados: Célia Cristina de Figueiredo Cassiano, Sergio Molina e Andreia Moroni
Mediação: Profa. Dra. Samira Youssef Campedelli (ECA-USP)

RESUMO: A convergência tecnológica e a globalização tornam mais fluidas as fronteiras econômicas e culturais entre os países. No âmbito da edição, os países da América Latina (incluindo o Brasil) têm travado relações importantes com a Espanha. A atuação de editoras espanholas no continente, por exemplo, altera substancialmente os mercados locais e a atuação dos profissionais de editoração. O objetivo do encontro é estimular a troca de idéias e o debate sobre essas questões.

Editores espanhóis na América Latina e os programas estatais de livros didáticos
A apresentação delineia como se configurou, no final do século XX e início do século XXI, um espaço iberoamericano do livro e em que instâncias desigualmente posicionadas se relacionam, dado que o protagonismo é exercido pelos editores espanhóis, que dominam, entre outros segmentos, o dos livros didáticos. No Brasil, o Programa Nacional de Livro Didático (PNLD) é uma opção de política pública que, desde a última década do séc. XX, faz do governo o maior comprador de livros do país. Esse tipo de política, que privilegia o investimento em manuais escolares, extrapola a questão nacional, na medida em que vários países da América Latina e do Caribe adotam programas similares que, em sua grande maioria, têm financiamento do Banco Mundial e do BID. Assim, buscamos refletir como essas tensões reconfiguram os espaços nacionais latino-americanos da cultura e da educação, apresentando novas questões para os países da região.

Célia Cristina de Figueiredo Cassiano é mestre e doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Tem especialização em Teoria e Técnicas da Comunicação pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero e graduação em Língua e Literatura Portuguesa pela PUC-SP. Atualmente é professora da Uninove (nos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda) e diretora de escola da rede municipal de ensino. Atua também com formação de professores. Tem experiência na área de Educação e Comunicação, atuando principalmente nos seguintes temas: mercado editorial brasileiro, livro didático, políticas públicas e história da educação.


Tradutores, editores e direitos autorais: rumos e impasses
Aproveitando as discussões em curso acerca dos direitos autorais sobre traduções literárias, suscitada sobretudo por alguns litígios recentemente divulgados pela imprensa, e os mais de vinte anos de experiência editorial, primeiro como tradutor e mais tarde como editor, o debatedor apresentará alguns tópicos de reflexão sobre os rumos e impasses nesse campo. Buscará problematizar os conflitos sem cair em esquemas fáceis e traçará alguns paralelos com a questão na Espanha, onde acordos coletivos celebrados há cerca de dez anos assentaram as bases para uma transformação das relações entre editores e tradutores.

Sérgio Molina é tradutor autodidata, em atividade profissional desde 1986. Verteu cerca de cinqüenta títulos do castelhano ao português brasileiro, sobretudo prosa narrativa espanhola e hispano-americana. Entre eles se destacam textos de Jorge Luis Borges, Roberto Arlt, Alejo Carpentier, Ricardo Piglia, Mario Vargas Llosa, Ernesto Sabato, além de D. Quixote, cuja tradução lhe rendeu o prêmio Jabuti 2004 (menção honrosa). Atualmente conjuga a atividade de tradução à de edição, na Editora 34.


O mercado editorial brasileiro no contexto iberoamericano
A partir da experiência de Virei a Página Agencia Literária e Assessoria Editorial, sediada em Barcelona, Espanha, serão apresentados os principais dados relativos ao mercado editorial iberoamericano (Portugal, Espanha e América Latina). Serão abordados a quantidade de títulos produzidos e de exemplares, a evolução anual, os principais segmentos editoriais, a quantidade de títulos brasileiros traduzidos e a produção da Espanha em relação aos demais países de língua espanhola, contextualizando o mercado brasileiro e as perspectivas de nossos autores no mercado espanhol. Os dados apresentados são dos estudos realizados pelo Centro Regional para el Fomento del Libro en América Latina y el Caribe (Cerlalc), pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Instituto Nacional de Estatísticas da Espanha.

Andreia Moroni é graduada em Comunicação Social-Editoração pela Universidade de São Paulo e tem mestrado em Teoria da Literatura e Literatura Comparada pela Universidade Autônoma de Barcelona, na Espanha. Foi bolsista do programa Alban entre 2004 e 2008 e estuda os processos de edição e publicação da literatura íntima, particularmente dos diários. Mora em Barcelona há quatro anos, onde fundou a Virei a Página Agência Literária e Assessoria Editorial (www.vireiapagina.com). Desde 2006, divulga o trabalho de autores brasileiros no mercado europeu e de língua espanhola e assessora editores a consolidar seus negócios no Brasil e na Espanha.

Jornada 2

Quem mexeu no meu texto? Diálogos entre a pesquisa e as práticas profissionais de edição de texto

Data: 24 de setembro, quarta-feira, 19h30
Local: Auditório Lupe Cotrim, Escola de Comunicações e Artes-USP
Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443 – Cidade Universitária – São Paulo – SP
Convidados: Luciana Salazar Salgado, Cristina Yamazaki, José de Souza Muniz Jr.
Mediação: Profa. Dra. Marília Pacheco Fiorillo (ECA-USP)

RESUMO: As etapas de intervenção textual (preparação, edição, revisão etc.) são fundamentais na publicação de produtos editoriais em geral. No entanto, essas práticas ainda contam com uma incipiente bibliografia de referência. Este encontro visa apresentar pesquisas (realizadas e em andamento) sobre a questão. Os debatedores articulam suas experiências profissionais e suas pesquisas para refletir sobre o papel do editor de texto, os problemas da profissão e as perspectivas de atuação.

O autor e seu texto ou o texto e seu autor?
A autoria, tema crucial em muitos campos, será abordada aqui a partir de inquietações que conduzem à figura de autor, como se ela viesse à baila porque o que é posto à luz, antes de mais nada, é um lugar de "alteridade explícita", que só se constitui na relação com um outro que é sempre um autor. Refiro-me ao lugar do profissional que dá tratamento a textos que serão publicados. Para pensar em termos de lugares, isto é, em termos de identidades sociais firmadas historicamente e manifestadas em práticas que se reiteram, procurando legitimar-se, tratarei da figura do autor no seu feixe de relações entre práticas editoriais que a identificam e outras, correlatas – o que significa dizer que tratarei da figura de autor discursivamente, nos termos da AD, examinando o que chamei de ritos genéticos editoriais.

Luciana Salgado é mestre em Linguagem e Ciência pela FE-USP e doutora em Lingüística pelo IEL-Unicamp. Tem especialização em Comunicação de Marketing pela ESPM-SP e há dez anos faz parte do núcleo Confraria de Textos, que oferece assessoria editorial a projetos variados, especialmente coletivos. Faz parte do grupo de estudos QTAAD – Questões de Teoria e Análise em AD (sediado no IEL-Unicamp) e do grupo interdisciplinar "O estranho familiar na literatura e em outras manifestações culturais” (sediado no Mackenzie-SP), nos quais desenvolve pesquisa sobre a produção literária de autores editorialmente desconhecidos.


A avaliação da legibilidade como instrumento na edição de textos: pesquisas em universidades estrangeiras
As pesquisas brasileiras sobre edição, preparação e revisão de textos são raras e o tema ainda não se consolidou no campo interdisciplinar dos estudos do livro. O debate sobre os princípios do conceito de legibilidade pode oferecer alguns instrumentos para a avaliação e para as intervenções do editor, contribuindo tanto para os estudos sobre edição de texto como para a prática editorial. Serão apresentados alguns estudos realizados de forma sistemática em universidades estrangeiras, em especial no Canadá.

Cristina Yamazaki é graduada no curso de Comunicação Social com habilitação em Editoração pela Universidade de São Paulo e mestranda em Ciências da Comunicação na mesma instituição. Trabalha há mais de dez anos como editora de texto e prestadora de serviços editoriais, para empresas como Companhia das Letras, Ática, Cosac Naify e Moderna, entre outras. É sócia da Todotipo Editorial.


Editar textos, mobilizar discursos: algumas condições de produção
Parte-se da idéia de que as atividades de intervenção textual são, ao mesmo tempo, atividades industriosas e atividades discursivas. Com isso, serão apresentados alguns fenômenos da indústria editorial contemporânea que nos permitem entender o trabalho de edição de texto a partir de suas condições concretas de existência. As fusões e aquisições entre editoras e a reestruturação produtiva fornecem o pano de fundo para a compreensão dos atores, das estratégias de poder e dos conflitos inerentes ao trabalho de quem edita, prepara e revisa textos nas (ou para as) empresas publicadoras.

José de Souza Muniz Jr. é graduado em Comunicação Social-Editoração pela Universidade de São Paulo e mestrando em Ciências da Comunicação na mesma instituição. É membro do Grupo de Pesquisa Comunicação e Trabalho. Tem como objeto de pesquisa atual os profissionais de intervenção textual nas empresas editoriais e jornalísticas de São Paulo. Além de pesquisador, é preparador e revisor autônomo.

Jornada 3

Interfaces da pesquisa em Editoração: educação, literatura e construção da cidadania

Data: 20 de outubro de 2008, 19h30
Local: Auditório Paulo Emílio, Escola de Comunicações e Artes-USP
Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443 – Cidade Universitária – São Paulo – SP
Convidados: Lívio Lima de Oliveira, Adriana Gabriel Cerello e Cintia Shukusawa Kanashiro
Mediação: Profa. Dra. Alice Mitika Koshiyama (CJE-ECA-USP)

RESUMO: O debate põe em relevo a pesquisa acadêmica em Editoração e seu caráter interdisciplinar. Os convidados apresentarão seus trabalhos de pós-graduação recém-defendidos, com o objetivo de discutir a relevância política e histórica do livro. Também serão abordados os processos de produção, circulação e uso dos produtos editoriais, e a importância dessas etapas para a educação, a literatura e a cidadania dentro do contexto brasileiro.

Indústria editorial e governo federal: o caso do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) e suas seis primeiras edições
O trabalho analisou os complexos processos de seleção, avaliação e execução nas seis primeiras edições do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), no qual se entrelaçam como atores principais a Secretaria de Educação de Infantil e Fundamental (SEB) do Ministério da Educação (MEC), o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e parcelas da indústria editorial brasileira. A metodologia utilizada envolveu um exame detalhado de documentos oficiais, a comparação entre eles e o cotejamento com falas oficiais, a coleta e a apreciação de literatura convergente com o tema provenientes do campo acadêmico, de áreas técnicas de editoração e de setores da indústria editorial. O estudo proposto se justifica, entre outras ações, por tentar desvendar elementos que permitam analisar o uso do dinheiro público, uma vez que a verba para esse programa foi aumentando de edição a edição (de 23,5 milhões em 1998 a mais de 110 milhões em 2003), além de ampliar o campo do conhecimento na área, considerando, sobretudo, a da indústria editorial brasileira e suas relações com o governo federal, seu principal cliente.

Lívio Lima de Oliveira é graduado em Produção Editorial pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (1997), com mestrado (2002) e doutorado (2008) em Ciências da Comunicação pela mesma instituição. Além de produtor e editor de livros, é professor adjunto da Faenac/Anhanguera (cursos de Produção Editorial, Letras e Publicidade e Propaganda).


Livro didático de Geografia: PNLD, materialidade e uso na sala de aula
O trabalho analisou práticas e representações de agentes e atores situados na cadeia do livro: MEC, por meio do estudo da avaliação do Guia do Livro Didático; indústria editorial, por meio da abordagem da materialidade do livro; e professores e alunos, por meio do estudo do uso do livro na sala de aula. Para analisar essas práticas e representações de atores do circuito do livro, elegeu-se um estudo de caso: o PNLD 2004 de Geografia, que teve o livro didático Trança criança (FTD) como o mais bem avaliado. Baseando-se em estudos de Chervel e Chevallard, este trabalho mostrou as diferenças de concepção de "disciplina escolar" para os avaliadores do MEC e para os agentes escolares, concluindo que a política de livros necessita ser dialógica, entre avaliadores e escolas, e não monológica.

Cintia Shukusawa Kanashiro é graduada em Produção Editorial pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (1997), com mestrado em Ciência da Comunicação pela mesma instituição (2008). Tem experiência nas áreas de Comunicação e de Educação, como editora de livros. Produtora e editora, também é pesquisadora na área de edição de livros didáticos e educação.


O livro nos textos jesuíticos do século XVI: edição, produção e circulação de livros nas cartas dos jesuítas na América Portuguesa (1549-1563)
A partir da obra Cartas dos primeiros jesuítas do Brasil, organizada por Serafim Leite, a dissertação buscou estudar alguns aspectos do processo de produção livresca do século XVI, em particular as condições de redação, a edição e circulação dos manuscritos dentro e fora do ambiente da Igreja Católica e a divulgação, distribuição e comercialização na Metrópole e na Colônia. A partir da observação de um momento histórico em que a maneira de ler, escrever e difundir os textos sofreu mudanças profundas, pretende-se reconstruir parte da história da cultura material do livro no século XVI.

Adriana Gabriel Cerello é graduada em Produção Editorial pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (1998), com mestrado em Literatura Brasileira pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da mesma instituição (2007). É produtora e editora de livros.